B.P

Todos os dias penso no momento em que te vi descer as escadas
para vires ter comigo,nem acreditei que estavas ali
Não me sai da cabeça a noite maravilhosa em que dançamos
agarrados, quentes, em ebulição, a ferver, sei lá.

Agradeço o momento em que apareceste a frente
e me começaste condimentar a vida,
que á muito estava sem sabor.
Obrigado pela luta que me dás
pelo fogo que me ateias
pelos abraços fortes
pelos beijos molhados
pelo desejo que libertas-te em mim
Obrigado pelas palavras
Pelo olhar profundo de interesse
Pelo sorriso, pela tua beleza
Mas agradeço acima de tudo
Por me fazeres sentir um miúdo
Fazes me sentir bem
Liberto

Recordações De Uma Alma Negra

Oh meu Deus o que é isto?
Que escuridão é esta que me engole o corpo
e me retira os sentidos agora sem sentido
O que é isto? Que estranha e pesada sensação
a de olhar a minha volta e ver tudo morto.
O que dizes, o que falas, não te ouço
Sinto desespero, angústia
Não percebo, não percebo
Acordo e caminho sonâmbulo pela casa
procuro algo mas não sei o quê
Que visão distorcida
Quero chorar e não consigo
O meu corpo está compulsivo
tem vida própria quer andar
Mas para onde?
Para onde me levas carcaça fedorenta
Não quero que vás, onde vais?
Maldita, queres a minha morte
Mas a minha mente não deixa
Ainda há consciência
Mas custa, cada vez mais
e como custa.
Se pensar bem,não custa nada.

Luzia

Luzia no teu olhar
o espelho da tua alma
um encontro insatisfeito
uma prece contida por respeito
algo novo, feliz sem fim
tudo isto no teu olhar
Tudo isto vejo, e sinto que sim
mesmo quando tu dizes que não
e arrastas o sentimento pelo chão
como se limpasses a agua do teu olhar

Rimas

Rimas com o dia
Rimas com o sol que a lua despia
Rimas com todas as palavras fortes
que se espalham pela pele e me abraçam de folia
Rimas nas asas de um condor
que voa ao sabor do vento
Rimas com a luz, o fogo e a brisa
Rimas com tudo o que desliza
Rimas no coração de um poeta
que faz da sua escrita linha recta
Rimas com a areia que é o tempo
Rimas com tudo o que é perfeito
E tão perfeito que é.

Luvox

Hoje para experimentar tomei seis e empurrei-os com uma garrafa de Grant’s que tinha aqui em casa.Apeteceu-me vomitar, não por causa dos comprimidos mas por causa do whisky, bebi um copo cheio desta merda, odeio Grant’s. O efeito dos comprimidos, foi porreiro, não me senti mal, muito pelo contrário tiveram quase o efeito que desejava, sonolência, tontura e alguma boa disposição já que olhava em meu redor e via tudo distorcido o meu cão parecia uma girafa, ri-me que nem um perdido, depois adormeci no chão da casa de banho. Quando acordei vomitei uma pasta branca com um cheiro horrível, espero que não se repita. Amanhã, tomarei vinte destes pequenos comprimidos brancos, estou certo que chegarei ao céu cheio de humor e não sentirei nada quando partir. Só espero não acordar numa maca cheio de dores de estômago, vou rezar para que não. Adeus.

Luvox II

As dores de estômago são contínuas
parecem agulhas que me trespassam
são relâmpagos que me encolhem o corpo
E o sangue borbulha fervilha e espirra
pelo chão onde escorrego e caio
A minha cabeça anda a roda
Surgem fotografias da minha vida
Tão traquina que era, tão estúpido que sou
Fotos de mulheres que tratei mal
Animal despido de sentimento, homem cru
Flash de uma vida sem sentido
carregada de caminhos sem fim
Vejo a família que renego
orgulho, comodismo ou simplesmente nada
Nada nado em marés vivas
O sangue cai me em bolsas escuras
fios sem fim que finam em derrames
Reviro os olhos ate olhar para mim próprio
quem sou, quem és
Existência amarga, solidão sem perdão
Descuidado, descrente, desacreditado
Já não me conheço, amnésia em voz alta
olha para mim de cima
Formiga sem buraco
Caracol sem casa
Pano
Mordaça

Já te disse

Já te disse
que quando olho para ti
apetece-me lamber-te toda,todinha
e enrolar-te num casulo de prazer
percorrer com a língua
cada centímetro da tua pele perfumada
explorar cada orifício ,cada segredo
Já te disse
Que quando olhas para mim
com esse ar felino
da me vontade de te morder de te trincar
mordiscar as tuas orelhas,os teus mamilos
devorar cada pedaço de carne crua,suada
ouvir a tua respiração ofegante
sentir o desejo nas palavras
Apetece-me...Já te disse?

Mergulhado

As minhas pálpebras fecham se cansadas
Ilusão, transformação de um indivíduo
Raiar na escuridão tosca de sentidos
Presumir, que uma infame saída se abre
Resguardar me de uma bala
Que passa a assobiar

Loucura repetida

O abismo voltou o abismo voltou
Roda gira em turbilhão
Cores vivas cores mortas
Chupa suga ventania
E anda a volta e anda a volta
As mãos escapam
Agarram parto as unhas
Tanta força tanta força
Não quero não quero
Quero viver, não
Onde estas discernimento
Onde estas calculismo
Não, não quero
Agarrem-me agarrem-me
Mãos suadas escorregam
Agarrem-me agarrem-me

O Fim

Bato forte contra a parede
Estou cego estou cego
Não encontro a porta desta merda
Bato forte contra a parede
Ricochete, caio de costas
Não encontro uma janela
Não encontro um buraco, umas escadas
Salto tento agarrar não dá não consigo
A parede perde-se no meu horizonte
Uma parede branca de vários metros de alto
Uma parede com arame farpado no cimo
Não vejo horizonte não vejo nada além
Só vejo esta muralha fortaleza, fim.

Uma vida...

A Joana é uma menina ruiva cheia de sardas na cara, como muitas das ruivas que nós vemos por ai. Todas as manhas vai ordenhar as cabras para por leite na mesa para o seu pai, um homem grande forte, mas já sem as forças de um jovem, nem a frescura mental para fazer mais senão olhar para o horizonte verdejante, cheio de montes e belos pastos. Todos os dias de manha, Joana acorda e entra na rotina diária ordenha e depois vai levar as cabras a passear nos imensos campos que rodeiam a sua casa, longe de tudo, longe de nada. Dá dois beijos ao seu pai que todos os dias se senta a porta de casa e só de lá sai quando a sua menina chega, enquanto ele, olha durante horas para o céu rabiscando desenhos e saudades nas nuvens que passam por cima, e lhe olham sorrindo.Joana essa, vai correndo falando com as suas amigas, conhece-as como se fossem suas irmãs, as irmãs que nunca teve, as meninas com quem nunca brincou, também ela gosta de olhar para o céu, imaginando as mais infinitas coisas, as mais belas maravilhas que a sua imaginação consegue ver, Joana só conhece o campo, mas gosta, gosta do seu pai, gosta de o abraçar gosta de sentir as suas mãos ásperas a acariciarem-lhe a face, mãos de toda uma vida de trabalho duro no campo, neste pequeno pedaço de paraíso onde existe tudo menos o nada.
Sua mãe faleceu a seis anos quando deu a luz, Joana, o seu pai todos os dias chora triste mas feliz, é a sua menina, é a recordação viva da sua esposa, mulher culta que despendeu de tudo para estar com ele, foi amor a primeira vista, é talvez a única recordação que ele tem, a do dia que foi vender morangos a cidade, e a viu, linda, direita, e de poucas palavras. A partir dai ele arranjou todo e qualquer tipo pretexto para ir a cidade, trabalhava de sol a sol só para ter algo para vender, sendo os queijos o seu maior trunfo. Todos os dias a via, até ao dia que ganhou coragem e deu-lhe uma carta onde tinha rabiscado os seus sentimentos em forma de poema e fugiu, com vergonha, deixando os seu queijos para trás. Quando chegou a casa cheio de vergonha, sentou-se no seu banquinho pensando ele que tinha feito a maior asneira da sua vida, e que agora não teria a coragem para lá voltar, tinha vergonha de a ver, mas tinha que lá ir precisava de vender para ganhar dinheiro. Quando acordou de manha Manuel foi levar o seu rebanho a pastar, e enquanto as passeava, ia-se lembrando do erro que tinha cometido, mas ao mesmo tempo sentia o alívio, estava longe, e desse no que desse pelo menos já o tinha feito. Quando chegou a noite Manuel jantava umas belas migas que ele próprio tinha feito na lareira de sua casa, quando de repente começa a ouvir o galope de cavalos e o chilrear de uma carroça, era ela, linda, bem vestida, frágil, sozinha.Lembra-se tão bem do medo que lhe começou a subir pelas pernas, o tremer o sem jeito, o pensar no que haveria de fazer. Ela chegou-se ao pé de Manuel e sentou-se no seu banquinho e conversaram durante horas debaixo de um céu limpo brilhante. A partir dessa noite ela voltava todos os dias a sua casa, para conversar com Manuel, durante horas e horas.
Ao fim do dia Joana chega, abraça o seu pai com força e ele olhando para o horizonte deixa cair uma lágrima tímida e esboça um sorriso.

Sem tempos

Chegou mais um domingo daqueles
não se faz nada nem nada se quer fazer
É certo que é mais um dia da semana ou menos um para viver
Não deixa de ser ambíguo que cada dia que passa
vivemos desejosos que passe, que corram, antes que cheguem
Acabam por ser mais um ou menos um que nos cansa
É uma dança do tempo, que de tempos a tempos nos derruba
Mas pronto, é mais um domingo que vivo, mas é menos um
Mais um dia soalheiro, já não chove, hoje não, talvez no próximo
se chegar amanha talvez não chova e passe devagar.

Gosto

Gosto da iluminação de uma fogueira
Gosto do estalar da madeira queimada
Gosto do cheiro do fumo do quente
Gosto de ler sentado ao lado do fogo
Gosto do roxo do meu copo
Gosto de beber vinho como se fosse vida
Gosto de velas acesas e do incenso
Gosto do conforto do silêncio
Gosto do ambiente que luto para ter
Gosto da vida como é, vazia
Gosto de encher a vida como quero
Gosto do gosto de gostar do gosto

Crude

Parece crude espalhado pelas escadas
Apressadas as velhas correm em atropelos
Rangendo os dentes partidos amarelos
Elas vêem a pressa com canastras de raiva
arrastam-se malditas, fedorentas velhas
pele estalada queimada de cancro mortal
arrojadas as velhas sobem cada degrau até mim
e eu, cá do alto de calças arregaçadas
olho corajoso não temo, não temo.

Já sei quem és

Hoje descobri quem me causava as erecções que tenho tido durante a semana, todos os dias acordo assim e tento desvendar quem esta por trás da cortina de seda branca. Tudo o que via era sombra perfeita de uma mulher, mas quem era, não sabia. Hoje descobri quem tu és e gostei de o saber acordei molhado, não de mais um sonho igual aos outros, mas sim porque estava ao meu lado. Fiquei a olhar para as tuas costas, contando cada pequeno sinal que pareciam brotar da tua pele leitosa, contei mais de vinte. Acariciei-te a curva que fazias das pernas ao pescoço onde terminei com um beijo, mas não sabia quem eras. Preferi na altura não saber, tentando vasculhar na minha memória embriagada o que se tinha sucedido para me tentar lembrar do teu rosto, mas não o consegui, nem tão pouco me importei. Preferi estar assim sem saber. Passei te com os dedos nos cabelos sentido cada madeixa a passar me por entre os dedos, soltaste uma palavra e viraste-te.Já sei quem és.

Cólera

Lençóis amarelos
cagados fatélos
imundos castrados
espirrados de dor
Morte que espreita
onde o medo de deita
a faca não corta
derrame pavor
Quem estraga castiga
suor sistemático
um fígado hepático
podridão sem cor
Não anda desanda
útero esmagado
cólera á solta

Arranca arranca tudo
arranca a mágoa das palavras
que escapam como sedimentos
de um enigma dissolvido em pó
Arranca arranca me a alma
deitada num leito esporrado
sémen morte irreal
Engole derrete espirra o ranho
Melaço peganhento

A árvore

O mundo parece estar a rachar
são as velhas raízes de uma árvore
morta,queimada
Elas continuam a crescer
esburacando cada milímetro de solo
em busca do coração da terra
E o mundo sofre
está frio de cuidado e o sol morre
lentamente,carente,negro
Mas há vida em quem não merece
as raízes,que continuam a espalhar-se
a partir cada pedaço de vida a rachar
cada vestígio, cada gota, de ganancia.

O dia hoje foi perfeito

O dia hoje foi perfeito, foi triste
A chuva caia constantemente como se o próprio céu chora-se
Uma tarde de luto, de dor e de amizade
Estava muita gente, todos em sintonia, a dar força uns, aos outros
Foi uma tarde perfeita de chuva, perfeita, parecia propositada
As pedras levantavam-se do chão como plantas em busca do sol
Brilhavam molhadas como se seus donos estivessem a ver
E a recordar, os seus entes já choraram assim
Nunca mais o veremos na sua calma e boa fala
Simpático, cordial, culto, amigo e pai.

O dia hoje foi perfeito, foi triste
Lembrei-me tanto de ti, foi ali que te vi pela última vez
Beijei-te na testa e deixei que te levassem, para sempre
Estive constantemente a olhar a minha volta
A tentar recordar-me qual era a tua casa
Mas acima de tudo a espera de te ver
Em espírito, a dizer adeus.

Conto irreal

Tudo aponta para que ele mais cedo ou mais tarde fale com ela, sente-se no ar um certo nervosismo, um calafrio que trespassa a espinha. O António é uma pessoa triste, sozinha mas apaixonado pela vida e pelos prazeres que esta lhe propõe. Ele adora passear, por vezes vai de mão dada com Maria. Davam beijos e trocavam abraços debaixo de um choupal junto a um lago Que havia no parque da Paz, lá havia paz, lá António esquecia-se que não estava sozinho tinha a sua mais que tudo, a linda Maria.
Nessa tarde António agarrou na mão de Maria deu-lhe um beijo entre os dedos e disse:
-Temo que estou a ficar insano, tu não existes e contudo estou tão apaixonado por ti.
Maria olhou para ele, com uns olhos que espelhavam pena por António.
-Sim António sou apenas o teu desejo, sou o que procuras fruto da tua imaginação, sou todo o amor que tens para dar, nós somos o mesmo.
António estava incrédulo pois não acreditava que os seus pensamentos e anseios fossem capazes de criar algo tão real e belo.

Emília e Galileu

Luz da lua prateada entrava pela janela do quarto de Emília, pintando um quadro triste de dor, e angústia. Galileu estava a morrer, o seu melhor amigo e confidente que ajudara a crescer, e que cresceu, com ele também.Emília chorava a beira da sua cama com os seus cabelos pretos, tão pretos que reflectiam o azul-escuro da noite e se colavam a sua face branca, lavada de lágrimas, trazendo a memória lembranças do primeiro dia em que o viu, recém nascido, sozinho, ao frio. Recordava também todas as brincadeiras e travessuras, carinhos e raspanetes que durante pouco mais de quatorze anos lhe deram alegria e tranquilidade, pois sabia que era o seu amigo e o mais fiel de todos, o único com quem era sempre certo contar.
Galileu amava Emília, por vezes iam os dois para a janela olhar para as estrelas, e ele ouvia Emília a contar as suas histórias de namoricos, e malandrices e toda a espécie de assuntos que ela lhe gostava de contar. Ele olhava para ela com os seus enormes olhos verdes atento a cada movimento a cada palavra. Galileu era tão feliz ao lado da sua Emília e ela era tão feliz ao lado do Galileu, viviam no seu próprio mundo, ele sabia todos os segredos dela, e ela, amava-o.
-Oh meu Galileu,vou sentir tanto a tua falta.
Naquele momento Galileu olha fixamente nos olhos de Emília como se lhe dissesse adeus e lança o seu último suspiro,Emília agarra-o com força como se estivesse a impedir que ele parti-se mas ele partiu,para sempre.E Emília chorou,chorou tanto.
-Oh,meu galileu,adeus meu querido gato.

O Amor e a Dor não são exclusivos do Homem

Força Emília

Apontamento

Arca velha fedorenta
Madeira podre que a sustem
Alma rota viva acaba
Julga gente e ninguém

Passa o passo que desenrola
Inspira corta sustem
corta a pagina que não diz nada
Espera que diga, mas a quem

Cega cego cala o mudo
Mudo áspero vida cai
Travessa bicho
Em pó se torna
Vida foge
E a chama vai

Quando uma mulher chora

Quando uma mulher chora
soltam-se pérolas que percorrem o seu rosto
rolando na sua pele, face perfeita
poesia que não tem fim um quadro de aguarelas
Quando uma mulher chora
abrem-se portas, fecham-se janelas
quando a lágrima beija os seus lábios
que salgadas, galopam pelo seu pescoço
Quando uma mulher chora
cada lágrima é um canto de ternura
que percorre o seu corpo arrepiado
e lhe chega ao coração
Quando uma mulher chora
As palavras são poucas
E deixam de ser reais.

Hoje apetece-me falar de mim

Hoje apetece-me falar de mim
Não que não o faça constantemente
Mas agora apetece-me mesmo escrever sobre mim
Dizer como sou,
Sendo eu a pessoa mais importante do mundo
Tenho a necessidade de ter súbditos e leais seguidores
Gente que não percebe
Porque eu sou o mais inteligente,vulgo,esperto
Olho de cima para baixo…sempre.
Sou importante, sou bom nas mais diversas facetas do dia-a-dia
E tenho orgulho em ser assim tão bom
Se eu não fosse assim tão bom, gostava de ser assim...tão bom
Quando caio levanto-me e digo que é assim que deve ser
É óbvio que é raro cair, mas sim, também caio
Afinal sou humano como os outros
sou é simplesmente melhor.
Não me interessa mais nada
porque afinal,sou o eixo do planeta.

Pântano

Assim voa a areia em pequenas espirais
espalhando um pouco por todo o lado suas sementes
fazendo crescer graus fechados oblíquos tornados
espasmos golfadas de memorias, isso não existe?
Branda aos céus de mãos abertas e grita agonizado
como se preso estivesse ás raízes que compõem o pântano
a água está suja e esconde os mais diversos perigos
sublime névoa fria existência que padece de aconchego
levanta as mãos ergue-as não fales não peças
mergulha sim de olhos fechados com medo de os abrir
mas não abras deixa te levar na espiral
os grãos de areias escapam por entre os dedos
levanta as mãos ergue-as não fales