A Joana é uma menina ruiva cheia de sardas na cara, como muitas das ruivas que nós vemos por ai. Todas as manhas vai ordenhar as cabras para por leite na mesa para o seu pai, um homem grande forte, mas já sem as forças de um jovem, nem a frescura mental para fazer mais senão olhar para o horizonte verdejante, cheio de montes e belos pastos. Todos os dias de manha, Joana acorda e entra na rotina diária ordenha e depois vai levar as cabras a passear nos imensos campos que rodeiam a sua casa, longe de tudo, longe de nada. Dá dois beijos ao seu pai que todos os dias se senta a porta de casa e só de lá sai quando a sua menina chega, enquanto ele, olha durante horas para o céu rabiscando desenhos e saudades nas nuvens que passam por cima, e lhe olham sorrindo.Joana essa, vai correndo falando com as suas amigas, conhece-as como se fossem suas irmãs, as irmãs que nunca teve, as meninas com quem nunca brincou, também ela gosta de olhar para o céu, imaginando as mais infinitas coisas, as mais belas maravilhas que a sua imaginação consegue ver, Joana só conhece o campo, mas gosta, gosta do seu pai, gosta de o abraçar gosta de sentir as suas mãos ásperas a acariciarem-lhe a face, mãos de toda uma vida de trabalho duro no campo, neste pequeno pedaço de paraíso onde existe tudo menos o nada.
Sua mãe faleceu a seis anos quando deu a luz, Joana, o seu pai todos os dias chora triste mas feliz, é a sua menina, é a recordação viva da sua esposa, mulher culta que despendeu de tudo para estar com ele, foi amor a primeira vista, é talvez a única recordação que ele tem, a do dia que foi vender morangos a cidade, e a viu, linda, direita, e de poucas palavras. A partir dai ele arranjou todo e qualquer tipo pretexto para ir a cidade, trabalhava de sol a sol só para ter algo para vender, sendo os queijos o seu maior trunfo. Todos os dias a via, até ao dia que ganhou coragem e deu-lhe uma carta onde tinha rabiscado os seus sentimentos em forma de poema e fugiu, com vergonha, deixando os seu queijos para trás. Quando chegou a casa cheio de vergonha, sentou-se no seu banquinho pensando ele que tinha feito a maior asneira da sua vida, e que agora não teria a coragem para lá voltar, tinha vergonha de a ver, mas tinha que lá ir precisava de vender para ganhar dinheiro. Quando acordou de manha Manuel foi levar o seu rebanho a pastar, e enquanto as passeava, ia-se lembrando do erro que tinha cometido, mas ao mesmo tempo sentia o alívio, estava longe, e desse no que desse pelo menos já o tinha feito. Quando chegou a noite Manuel jantava umas belas migas que ele próprio tinha feito na lareira de sua casa, quando de repente começa a ouvir o galope de cavalos e o chilrear de uma carroça, era ela, linda, bem vestida, frágil, sozinha.Lembra-se tão bem do medo que lhe começou a subir pelas pernas, o tremer o sem jeito, o pensar no que haveria de fazer. Ela chegou-se ao pé de Manuel e sentou-se no seu banquinho e conversaram durante horas debaixo de um céu limpo brilhante. A partir dessa noite ela voltava todos os dias a sua casa, para conversar com Manuel, durante horas e horas.
Ao fim do dia Joana chega, abraça o seu pai com força e ele olhando para o horizonte deixa cair uma lágrima tímida e esboça um sorriso.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário