És tu?

Procuro libertar me de um desejo incontrolável de escrever
Anseio pelo ontem, fujo do amanha,
vivo dia a dia neste mundo
tão feio, tão superficial, tão materialista.
Procuro algo ou alguém que me solte que me faça renascer
que toque nas profundezas da minha tristeza.
Que me acarinhe com palavras intimas e soltas
Que veja o sol como eu
uma luz de esperança uma gaiola aberta
Todo eu sou água que corre do topo da serra
e que canta por entre pinheiros bravos
e fetos que se levantam para o céu
musicando tão pesada sinfonia.
Seja como for cá estou escrevendo palavras
sobre sonhos, pesadelos,dor,tristezas,
simples devaneios que me vão na alma.
Não estou sempre triste, aborrecido talvez.
Sinto falta das letras que compõem a minha escrita,
desejosa que alguém perceba.

Lápis Amarelo

E assim a vida de criança, o tempo passa devagar, o nosso passa a correr.Acordamos num dia a pensar que é terça-feira, mas depressa nos apercebemos que já é sexta.
O tempo não custa a passar quando se é pequeno, a não ser que algo bom nos aguarde no dia a seguir, de resto ocupamos o tempo com brincadeiras pautadas pela inocência, uma corrida daquelas quem for o primeiro a chegar é o super-homem ou atirar uma pedra para o lago a fazer peixinho. Não custa, não custa nada.
Chegar a casa de joelhos esfolados corpos suados do jogo da bola esfregar os cabelos as bonecas para irem para a cama limpinhas e bonitas como a minha irmã fazia. E assim ocupamos o nosso tempo entre brincadeiras e pouca escola.
Uma vez a minha mãe deu me um lápis amarelo daqueles com borracha por cima, adorava aqueles lápis,depressa comecei a escrever, no inicio rabiscava coisas atrevidas para as miúdas da minha escola, outras vezes, fazia desenhos que nem o Picasso conseguia melhor, tinham outro significado.
Mas foi com esse lápis que escrevi algo com mais sentido e os meus olhos abriram-se, abriram-se não como se fosse cego mas sim quando notei que gostava de escrever, mais do que roubar laranjas na horta ao pé de casa, mais que jogar a bola, foi nesta altura que comecei a olhar para o céu para as estrelas e ver as figuras que elas faziam, apontava desenhava, estudava. Chegava a acordar as 5 da manha só para ver Vénus a aparecer. Aprendi muito sobre astronomia, geologia e muita poesia levado pelas conversas da minha professora de português que dizia que eu tinha muito jeito para escrever poemas, ficava sempre em primeiro na minha turma. Lia muitos livros de temas diversos sempre a estudar sempre a aprender enchia-os com apontamentos, e quando ia a biblioteca entrega-los a senhora ralhava sempre comigo por estarem todos rabiscados.
Passados alguns anos decidi que queria ser jornalista pois vi na televisão um lápis igual aquele nas mãos de um jornalista televisivo e fiquei boquiaberto e sonhei. Sonhei que estava na guerra a fazer a reportagem vestido de camuflado e aparecer na televisão, sempre com o meu lápis amarelo.
Mas os anos foram passando e eu fui crescendo, deixei a escola e comecei a trabalhar, o tempo, esse começou a correr mais rápido do que eu, bem mais rápido. Não perdi no entanto a curiosidade de menino, continuo a estudar e fazer o que mais gosto.Ainda guardo numa caixa de fósforos já gasta da humidade, uma ponta muito pequenina do meu lápis amarelo. Volta e meia quando me sinto em baixo, abro a caixa,olho para o lápis e escrevo.

Linda

Fico sentado ao teu lado a espera que me digas uma palavra
Como naquelas noites em que me dizias tantas
Agora repousas negra alma escondida pelo véu de linho que te dei, e adoravas.
Venho cá todas as noites como te prometi
Venho te fazer companhia
Esculpi anjos e flores para ti para não te sentires sozinha
Mas são apenas de granito frio e não sentem como eu
Por isso eu venho cá todas as noites como te prometi.
Continuas linda vestida de negro e de cabelo escorrido
O tempo não passa por ti, tu és o tempo, tu és tudo.
Desde que partiste, o meu coração ficou preso
Por espinhos aguçados que mo fazem sangrar
Choro todas as noites, aqui, quando te vejo
Acendo velas para te aquecer, está frio.
Minha bela paixão que me deixaste
Irei ter contigo quando o meu tempo chegar
Tal como me disseste naquela noite
Em que voamos juntos por cima da catedral
Estavas linda, disseste que me amavas e sorriste
Abraçaste me com tanta força que tremi
Agora deitada aqui sozinha no teu túmulo
Naquela igreja onde casámos
Continuas viva assim e bela, linda.
Este será o meu tumulo quero ficar aqui ao teu lado
De mão dada para mais uma vez voarmos juntos,Linda.

Por ti faço

Seios enrolados nos meus lábios molhados
Respiração contida entre folhos humedecidos
Louco tão louco que raiva tão boa
Penetro com força, devagar se pedires
Tu o que te leve ao céu eu faço, pois faço.
Nádegas endurecidas espasmos de prazer
Leitoso sinal que me pedes consolada
Deitada e arqueada gemendo de prazer
Em cima ou em baixo lambendo suada
Tudo o que queiras para chegares ao céu eu faço, pois faço.


2008

Sangue,sangue...

Sufoco sufoco quem me tira deste sufoco
Quero dizer, não sei o que fazer
As palavras enrolam se e saltam por aqui

Sufoco sufoco quem és tu que me fazes assim
Quero escrever não sei o que fazer
Vejo me mergulhado em agua não consigo mais subir

Luto luto, negro vulto que vem ai
Estou doente não me faças mal
Quem és tu quem és tu

Ilusão demente agua fria em sangue quente
Respiro em sangue branca pele
Algo me agarra e esfaqueia
Sangue, sangue, sangue, sangue.
Só vejo sangue quem és tu misterioso vulto.



2008

Estupidamente quentes

Existe algo mais forte que o fogo desta fogueira
são os teus olhos que me mexem que me agarram
mas mesmo quando os teus olhos não olham desta maneira
aquecem tão forte e sinto que me amarram

Os teus olhos são paredes em chamas
desejo encarnado uma rosa que eu beijo
são sonhos que me acordam quando dizes que me amas
é algo profundo que me liberta o desejo

Quem és tu aparição celeste
fria morna estupidamente quente
quadro impuro de desejo ardente

Esses teus olhos, ai esses teus olhos
são pedras de âmbar vermelhos de prazer
rubros,escaldantes,todos os dias...o meu amanhecer



2008

Branca

Quem sou eu
cidadão do mundo
amado e odiado
feio mas bonito
a espera do triste fim
Todo eu sou merda
mal cheirosa
ninho de moscas
sou amor
sou raiva
sou dor
sou paixão
Todo eu desconhecido
habitante da vila
poeta inculto
filosofo sem resposta
cantor sem voz
odor e moléstia
orgânico repasto para plantas
sou cego
sou surdo
sou mudo
mas tudo é porque tem de ser
e todos são o que são
e eu sou só mais um
que nem tão pouco sabe escrever.



2008

Canto de loucura

Fecha a torneira.
Gota a gota pingo a pingo
Gasta -se a mente a tentar perceber
Fala a fala escrita a escrita
Vai e vem e vem e vai
Cada passo a ver se cai

Fecha a torneira fecha a torneira
Cada pinga cada pinga
Um…dois…três….
Turbilhão suga turbilhão gasta
Vai e vem e vem e vai
Cada passo a ver se cai

A torneira não fecha a torneira não anda
Passa a hora, passam horas
Pingo pingo consciência acorda
Aperta em aperto, o sossego
E vai e vem e vem e vai.
Cada passo ate que cai.


2008

Está tudo seco

A medida que passo por aquela ruela apertada
Vão se fechando as janelas mas de cortinas entreabertas
Os olhos olham, mas não vêem
…e nada faz sentido

A laranjeira onde outrora nos dormíamos morreu
assim como tudo a sua volta
A sua sombra, a erva do canteiro, tudo
…e nada faz sentido

O velhote que se sentava com a sua esposa
No seu banquinho a porta de casa
Morreu, foi se embora o luto pesa
…e nada faz sentido

Havia uma fonte manuelina onde brincávamos
E lavávamos as mãos cheirosas das laranjas
Já não existe, é uma parede com propaganda
…e nada faz sentido

Os anos passam devagar mas a correr
E eu próprio já não sou uma criança
Sou homem feito, já perdi a inocência
…e nada faz sentido


2008

Eu vi -te

Lá vais tu toda pintada no teu vestidinho preto
Curto sempre curto para mostrar as pernas
Por onde passas deixas rasto como se uma brisa
Passasse naquele momento e parasse o tempo
Aos homens o efeito é nefasto, boca aberta
Olhar fixo e pensamentos perversos.
Mas tu continuas pela calçada molhada
Em passadas firmes e certas nada te toca
De cabelo ondulante como juba de leão
Mostrando sempre um sorriso de menina
Vais semeando caos sem te aperceberes
Nada temes nada de arrelia.
És um íman humano atraís, seduzes, brincas
E quando balbucias uma palavra, um perdão, um desejo
Tudo se transforma em dia de sol e a chuva foge
Com medo de tanta perfeição.
Silhueta violão, doce açúcar de desejo.


2008

Céu

E o tempo vai passando mas a dor vai se mantendo
Chorei muito, gritei mais, mas ela não vai, ela persiste
É um vazio que se formou bem no meu interior
Um vazio que me derrete devagar, bem devagar
Naquele dia a minha existência quase deixou de existir
Passei a ser um furo no tempo uma roda vazia
Um pássaro sem canto.
O meu telhado partiu-se, era de vidro
Agora não sei onde vou, onde fico
Porque vivo.
Estendo os braços ao céu e deixo a chuva lavar o meu rosto
Marcado pelas lágrimas, marcado pela tristeza
Os meus olhos vermelhos já não têm o tal brilhar
Levaste tudo, tudo.


2008

Lilith

Mãe da luz imperatriz da vida
serpente sem pele que sonha com a dor
mãe da lua filha luz despida
manta erótica que emana calor

Tomba o anjo de asa partida
no lago da fé que agora secou
no oásis da graça perdida
habita a rainha,o anjo pecou

Gothic Sun

I'm waiting on my cold room
when the night begins to fade
I'm waiting for the night´s coat
to warm me within her grace

I try to reach for her hand
but she escapes like the sand
she flew away with the wind
lonely again and lost in sin.

I'm not happy any more
I´have lost my sun when the sky was storm
I spread my wings but they burned away
is this my life or is this my fate

Malícia

Vejo nos teus olhos ardente desejo
Como um vácuo de silêncio, um turbilhão crescente.
O ar pulsa, por cada movimento firme que dou
Por cada gemido que dás,
Por cada beijo desencontrado que damos.
O teu corpo, suado de cheiro, calor que me cansa
É fogo, é lava que corre, é gelo que queima.

O teu respirar descontínuo
Aquele gaguejo do momento
É um quadro cheio de cores cuja harmonia é perfeita
É carne com carne é cheiro com cheiro.
E quando nos deitamos, de olhos nos olhos
Com um sorriso envergonhado
E com as faces rubras de paixão,
Damos um beijo profundo
Com o profundo desejo,
De acordar pela manhã.



2008

Só em ti.

Ninguém me consegue tirar desta prisão
Estou embriagado e de rastos
Quem me tira daqui, quem.
Todos os dias penso em ti
Desespero por ti.
Mas estou preso, preso.
Cada vez que inspiro sinto-te
Tas tão perto mas estas tão longe
Sinto o calor da tua boca
Sinto a tua pele sinto a tua voz
È uma dor constante
Sinto uma impotência em não te agarrar
De te beijar, de te abraçar,
Adormeço a pensar em ti
Acordo a pensar em ti
Penso em ti,
Não tenho espaço para pensar em mais nada
Só em ti.

Assim

Coração vazio é coração que não sente
Mas sente o que sente porque sentir é assim.
Chorar o que choro é chorar o que sinto
Mas se sinto o que sinto quem mais sente assim.
O sorriso que se solta não se solta sozinho
porque sozinho está o mundo e ninguém sorri assim.



2008

Um medo

Existem dias em que acordo sem respirar
Sem ar, sufoco na minha almofada
sem forças para virar a cabeça.
E cada vez que acordo assim,
custa-me mais a virar cara.
È como se eu desse a ordem ao corpo
Mas o corpo...
O corpo quer-me ver morto e não responde a ordem.
E eu continuo sem respirar,
Nem um movimento, nem um.
No meu pensamento embriagado pelo sono
apenas me passa a ideia que irei morrer
senão for hoje é amanha.
O facto é que cada vez custa mais virar a cara
para respirar, e cada vez acontece mais.
Haverá um dia em que o meu corpo,
não responderá a minha ordem.
Sinto isto, tenho medo, porque cada vez é mais difícil.
É até a ultima….



2008

Quem esta ai

Subo as escadas velhas e escorregadias
A porta escura espera por mim
Saem do seu interior vozes vadias
Que gritam alto o meu nome
Arregalo bem os olhos
Para ver no seu interior
Está escuro muito escuro
Não consigo ver.

Escorrego num degrau
E caio de joelhos no chão
Mas elas chama-me cada vez mais alto
Vem vem ate nos
Sem forças subo lentamente
Quem me chama quem me grita
Está escuro muito escuro
Não consigo ver

Pé ante pé vou subindo em dificuldade
E as vozes chamam cada vez mais alto
Vem vem ate nós
Abre-se a porta que me arrepia a espinha
Quem esta ai
Quem me chama, quem
Está escuro muito escuro
Não consigo ver

Uma delas responde baixinho
Sou a voz, sou o todo
Sou o sonho que te desperta.
E nisto sinto uma mão fria
Que me acaricia que me aquece
E no outro lado uma voz dizia
Está escuro muito escuro
Não consigo ver.




2008

Margarida

Não,
Não consigo, não consigo.
Respire, respire
Vai ficar tudo bem
Não aguento.
Abra os olhos abra
Que dor que dor
Calma calma

Deste-lhe frio Margarida
Deste-lhe esperança
Mentiste ao dizer que o amavas
Mantiveste sempre a distância
Agora chora Margarida chora

2008

O senhor da capa

Tudo gira a minha volta
Tudo mói, tudo espanta
Corre-corre salta e cai
Apanha e foge,
que o mundo esbanja.
As sombras voam a minha volta
as sombras falam, as sombras cortam
A vida é curta a vida é curta,
quando as paredes soltam ruídos.
O espaço encurta, encolhe e vem

Salta e foge, salta e foge.
O senhor da capa já vem alem.


2008

Simplesmente

Existe uma voz que percorre por entre corredores apertados e húmidos,
sente-se o cheiro a mofo a entrar nas narinas,embaladas pela luz fosca,
intermitente de duvidas e receios de querer saber.
Há um eco que voa por ouvidos incrédulos que desmaiam sem palavras,
como se as palavras matassem e o medo assustasse.

Parece uma brisa que entra pela janela e não olha para trás,
que apaga a vela e acende o sol que reflecte a sua face contente e quente,
e um calor que acorda almas e gente,é um raio eléctrico que arrepia
e abre os olhos remelosos de quem a muito não vê.

No entanto há muitos que se espantam de queixo caído
e de olhar assombrado como se a verdade mordesse.
Esses muitos incrédulos não acreditam na simplicidade do momento
que trouxe o vento sussurrando baixinho:
-Venho nos braços do mar e abraço o areal,com a minha espuma,
com a minha alma,com o meu saber.
E assim nasceu a esperança de quem alguém que alcança e a faz ver.



2008

Inabalável

Almas profundas que se arrastam
cegas amargas sombras de crer
murmurando uivos surdos que se afastam
choram almas por não te ter.

Apaga-se o sol dos meus olhos
olhos estes que são teus
acende-se o frio por entre folhos
desfolhados as mãos de Deus

Longas trevas gritantes
entre a miséria do meu ser
choram almas sufocantes
da tristeza de não te ter

Arrasta-se noite gloriosa
louca profunda e cega
por entre a chama furiosa
arde o meu coração que navega

Um ódio amargo que passa gemendo
uma luz que se apaga e diz tremendo
sou o sol negro que te amarra
que na terra amargurado te agarra

inabalável vontade de te amar
odor putrefacto de tanto tentar
vou morrendo nos braços da incompreensão
tentando alcançar a tua negra mão....

A Folha

Cai a folha da neura da fadiga
jaz oculta no chão,entre a caruma e o cheiro
gasta, incolor rebola entre arbustos pingados
procurando a vida nos teus lábios molhados.

Um Cheiro

Talvez nunca tenha escrito com tanta dor
ou talvez só agora saiba realmente o que é.
Malvada,mesquinha e impiedosa.
Tirou-me o cheiro da felicidade
quando agora a sentia.
Foi como um cheiro rápido
rápido, como a flor que murcha sem agua
tão rápido que nem deu para te chamar amor
Ai,doí tanto acabar assim,entreguei-me de corpo e alma
e contigo me apercebi que ainda não posso amar

Afinal o meu coração não é de pedra
mas sim de terra como os grãos de areia
em dias de tristeza rolando devagar.
E assim ficarei,morrendo na solidão
talvez com a esperança de ter o prazer
de a voltar a ver,mas sempre
com o receio de ser apenas um cheiro.

Sonhador do vento

A minha vida é um espelho de aguarelas
de cores doentes e depressivas,
que pintam a minha alma na cruz dos sentidos.

Bebo no vento da memoria a aguardente da fé,
quebro rotinas assombradas pelo medo
que me embriagam com raios dementes,
do eterno sonhador do vento.

Juizo Final

O vento sopra forte
repentino e devastador
traz consigo o cheiro a morte
emanando infernal calor.

Traz a diabólica profecia
o cheiro a ocre e a queimado
-é o diabo.A minha avó dizia
-é o dia amaldiçoado

Havia um estranho silencio
uma inquietude no ar
é a subida do Anti Cristo
nossas almas vai levar.

E a Besta subiu a terra
trazendo consigo a destruição
mas isso é outra historia
o conto da maldição....

A Maldiçao

Esta é a maldição
daqueles que dele riram
agora todos lambem o chão
dos mortos que caíram.

Nos seus olhos a indiferença
da sua boca ódio em sangue
-pelo cornudo a minha crença,
por quem o crucifixo lambe.

Oh senhor das fornicações
rei do mal e das mentiras
baptizou me com tentações,
maravilhas que eu nunca vira.

Mephisto o meu mestre
deu-me riquezas e orgias
amaldiçoado ele me veste
de pecado e luxurias.

O caminho

escolhi o mais árduo caminho
para o meu fardo carregar
sou o dono do meu destino
mas não consigo continuar.

O meu fardo é pesado
doe-me as pernas de lutar
cada passo mais cansado
não consigo la chegar.

Levo a pedra do destino
levo o peso do amor
no meu peito levo um sino
para me lembrar da dor.

tracei o rumo para a vitoria
mas derrotado me tornei
nunca cheguei a ver a gloria
sozinho sempre chorei.

O divagar da divagação

O divagar da divagação
é o acordar de quem não dorme
é a luz que apaga o sono
cujo pavio nunca acendeu.

O candelabro da vela
é o estandarte do pensador
é o calhau de que revela
o desespero do tentador.

A fraca luz da existência
é o tronco de quem medita
para ele não há carência
pois seu ego ele arbitra.

O divagar da divagação
é um pensamento molhado
que quando espremido com força
faz cair o sumo do alcançado.

Num paraíso esquecido

Existe um buraco onde as almas gritam
desesperadas ao frio ,na podridão.
Um buraco sem sentido,onde são comidas
em torturante lentidão.
Sufocantes almas torturadas
cuja vida abandonaram
seus corpos mutilados por vermes
um repasto da miséria.
Seus uivos são estridentes
de quem sofre e vomita,
as suas próprias entranhas.

Fado

Amor que és meu e me deixas te
sentado nos degraus da Santa Sé
fiquei la sozinho com o meu destino
caído na lembrança que já não é.

Amor que já não voltas com a maré
o teu beijo já não solta a primavera.
E o sol ao nascer ficou sem dia
a sua mão na minha pele tornou se fria.

As cordas da guitarra que me abraçam
choram acordes verdadeiros do meu ser
a lua ja vai longe triste sentida
espalhando sobre mim o véu da dôr.

Amor que já não voltas com a maré
o teu beijo já não solta a primavera.
o fado que eu carrego é um castigo...
amor,amor,amor.

Ecos

Ecos,ecos...ecos...
Mais um velho que se arrasta
no charco da desilusão.

...Ecos,ecos...ecos...
Confronto o confrontado
numa estrada em convulsão.

...Ecos,ecos...ecos...
Cai um vidro da janela
um sufoco que se parte

...Ecos,ecos...ecos...
Estilhaços da memória
o meu sangue corre morto.

...Ecos,ecos...ecos...
Nas veias a miséria
loucura,pus e dor.

Cru

Os meus sonhos.
São meras coincidências imaginarias
fruto do saber o que sei,
mas não saber porque acordei.
São imagens que dão esperança,
de querer saber o que não sei.
E por isso a desilusão,
porque não são úteis para saber
mas para assim prever
o que já sei...nada

Insónia

Passei noites em branco nas brumas da sensibilidade,
mas tornei me insensível ao chocar com a verdade,
tantas velas acesas que os ventos sopraram,
foram tantas as lágrimas choradas que logo as apagaram.

Fui perdendo a razão entre a alma e o saber,
esquecendo as palavras que te tinha para dizer.
Ecoaram na noite os gritos do meu ser
numa angustia que perdura na luz que tende em nascer.

O sorriso de uma lagrima

O sol tocou-me com a ponta do seu dedo,
enrolou-me no lençol de outono tenebroso
vestido pelo sono exaltado,por um sonho perdido
o amor por ti ainda é vivo mas o meu coração parou.

Na janela do meu quarto pousou um melro
que cantou para me acalmar,
fez me olhar para os campos da saudade
onde sorri uma lágrima ,por jamais te beijar

Côr

Inspiro o doce cheiro,o toque que me afasta da cor.
As cores vêem a trote onde a leveza salta em bolas de sabão
que me recolhem reflectindo a luz doente,
que graceja, intempestiva,louca.


Distorço a vida contida em orifícios do eu ser,
colhida em malgas de raiva passada,
que passou por mim sem eu ver.

Louco

Toquei na fonte dos teus olhos
quando a minha alma gritava por ti,
molhei os lábios em torno da saudade
chamando o sabor adocicado de tu.
Mergulhei nos teus braços, marés de felicidade,
e chorei que nem um louco, apenas por tocar-te.